O táxi sumiu do seu horizonte, e nenhum outro parecia surgir. Cada vez mais nervosa, Dra Helen começou a procurar por um aplicativo em seu celular, mas a internet não queria colaborar. Olhou mais uma vez para frente e viu. Ele estava ali, do outro lado da calçada a observando. O homem nu, mas não estava mais nu, e sim com uma roupa estranha com ares dos anos de 1970. Parecia mais jovem também, mas, sem dúvidas, era ele. Pelo menos em sua lembrança não muito confiável.
Dra. Helen tentou atravessar a rua, mas os carros continuavam vindo com muita velocidade. Ela olhou para os lados, viu uma brecha e começou a atravessar. Foi quando ouviu a buzina e o vento quente em suas pernas. Um corsa preto freava com grande dificuldade e o motorista visivelmente irritado a xingava de dentro do carro. Mas, a médica não se importou. Olhou novamente para o outro lado da calçada, mas o homem não estava mais lá. Procurou por todos os lados e nenhum sinal dele.
Será que estou imaginando coisas? – pensou ela.
Ainda atônita tentando entender o que acontecia, ela sentiu uma mão em suas costas e uma voz rouca ao seu ouvido.
- Dra. Helen.
Ela congelou e começou a se virar lentamente, mas a voz continuou de maneira firme.
- Não, não se vire. Simplesmente ande em direção àquele carro verde.
- Qual? – ela perguntou.
- Aquele Corola estacionado a três carros daqui.
Dra. Helen olhou ao seu redor e viu o carro que seu interlocutor estava indicando. Começou a andar bem devagar. Sentia que ele a acompanhava de perto. Será que era o homem que vira do outro lado da rua? Ou será alguém que já estavam enviando para puni-la ? O homem nu disse que ela iria morrer... Mas, por que o velho não havia lhe explicado tudo quando ela deu o alerta? Por que simplesmente mandou aguardar novas orientações? Tantos anos se preparando para descobrir a falha no projeto e agora que estava perto, eles simplesmente iriam eliminá-la? Não fazia sentido. Não depois dos avanços. Ela precisava retornar ao hospital, precisava conversar com Pedro.
A médica continuou andando olhando para os lados. E mais uma vez ela viu um vulto que parecia o homem nu. Então, não era ele que a estava guiando. Ela respirou fundo e correu o máximo que conseguiu enquanto ouvia apenas a voz rouca ao fundo.
- Pare. Você vai se arrepender.
Perdidos no Tempo - Capítulo 10: "Do outro lado da rua"
quinta-feira, março 03, 2016
Perdidos no Tempo - Capítulo 9: “Au Revoir, Monsieur Langi”
terça-feira, janeiro 26, 2016
O Tempo estava cada vez mais pesado.
As nuvens carregadas eram refletidas na superfície aquosa do Rio Sena. A garota de olhos azuis e cabelos dourados corria para dentro do coração do Quartier Latin. O passo apressado e o olhar firme e direto conduziam seu corpo atlético entre as cadeiras dos bares esparramados pela calçada do bairro mais latino de Paris.
Para uma menina que passara dezesseis dos seus 23 anos morando na capital francesa, especificamente atravessando aquela exata rua mais de uma vez por dia, era de se esperar a indiferença em relação àqueles homens de meia idade que brindavam o balançar de suas pernas. O fato, é que não estavam provocando uma moçoila qualquer, aquela era Lili, e, conhecendo Lili do jeito que aqueles homens de meia idade sentados em frente ao La Ronde conheciam, sabiam que algo de errado estava acontecendo.
Em um dia normal, Lili teria jogado uma pedra na cabeça de um deles.
Ela dobrou a segunda esquina e, sem sequer precisar ler a placa que sinalizaria a localização da loja de penhores do Monsieur Langi, entrou como um rompante pela porta do estabelecimento do seu tio.
- Ils s’arrivent!
As nuvens carregadas eram refletidas na superfície aquosa do Rio Sena. A garota de olhos azuis e cabelos dourados corria para dentro do coração do Quartier Latin. O passo apressado e o olhar firme e direto conduziam seu corpo atlético entre as cadeiras dos bares esparramados pela calçada do bairro mais latino de Paris.
Para uma menina que passara dezesseis dos seus 23 anos morando na capital francesa, especificamente atravessando aquela exata rua mais de uma vez por dia, era de se esperar a indiferença em relação àqueles homens de meia idade que brindavam o balançar de suas pernas. O fato, é que não estavam provocando uma moçoila qualquer, aquela era Lili, e, conhecendo Lili do jeito que aqueles homens de meia idade sentados em frente ao La Ronde conheciam, sabiam que algo de errado estava acontecendo.
Em um dia normal, Lili teria jogado uma pedra na cabeça de um deles.
Ela dobrou a segunda esquina e, sem sequer precisar ler a placa que sinalizaria a localização da loja de penhores do Monsieur Langi, entrou como um rompante pela porta do estabelecimento do seu tio.
- Ils s’arrivent!
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Perdidos no Tempo - Capítulo 8: "Tempo é dinheiro"
domingo, dezembro 27, 2015
Assim como as paredes e o chão, Pedro sentia suas pernas tremerem, seu corpo todo tremer. No celular, derrubado por sua mão trêmula e caído ao canto, Dra. Helen ainda gritava:
- Pedro, Pedro, saia daí! Abra a porta.
Mas Pedro não conseguia nem alcançá-lo. Era como se uma corrente elétrica atingisse seu corpo e ele, paralisado ao chão acolchoado daquele quarto branco, apenas assistia ao que parecia impossível. O estrondo não havia sido do lado de fora do quarto, como supunha. O som vinha de uma estranha explosão de luzes que se materializava no centro do quarto branco. Mas era um som meio abafado, surdo, como se a explosão de luzes trouxesse esse som de outro lugar. Essa foi a sua sensação. Foram os 5 segundos mais longos de sua vida. E, de repente, nada. Tudo parecia igual. O quarto estava silencioso como outrora. No canto oposto ao seu, encolhido sob a janela, o louco, o monocórdio "Homem Nu" demonstrava medo. Um medo paralisante que o deixou estático, encolhido, tremendo no chão.
- Pedro, Pedro, saia daí! Abra a porta.
Mas Pedro não conseguia nem alcançá-lo. Era como se uma corrente elétrica atingisse seu corpo e ele, paralisado ao chão acolchoado daquele quarto branco, apenas assistia ao que parecia impossível. O estrondo não havia sido do lado de fora do quarto, como supunha. O som vinha de uma estranha explosão de luzes que se materializava no centro do quarto branco. Mas era um som meio abafado, surdo, como se a explosão de luzes trouxesse esse som de outro lugar. Essa foi a sua sensação. Foram os 5 segundos mais longos de sua vida. E, de repente, nada. Tudo parecia igual. O quarto estava silencioso como outrora. No canto oposto ao seu, encolhido sob a janela, o louco, o monocórdio "Homem Nu" demonstrava medo. Um medo paralisante que o deixou estático, encolhido, tremendo no chão.
Perdidos no Tempo - Capítulo 7: "Confiança"
quinta-feira, dezembro 03, 2015
Os dois olhavam apreensivos, chocados com a notícia. Não conseguiam emitir nenhuma palavra ou som, não conseguiam nem se mexer. Tanto Pedro quanto Dra. Helen não queriam quebrar o que poderia talvez ser a oportunidade que estavam esperando. Não era mais somente sobre alterar o passado que ele falava, tinha dito outra coisa, algo que parecia importante para ele. Tão importante que o fez deixar para traz a repetição que o tomou por anos.
Mas agora vinha o medo. Dra. Helen apostou todas suas fichas numa possível cura para seu paciente. Nunca havia visto nenhum dos seus se regenerar, recobrar consciência, isso era praticamente impossível para ela. Mas o Homem Nu poderia ser a prova que ela era capaz. Há anos que tentava buscar alguém que apoiasse e financiasse seu projeto. Tudo bem, não havia feito nada demais, nada que não houvesse feito antes. Mas ninguém precisava saber. Ele falou, mas não estava mais falando. Disse três frases que não conseguia esquecer e depois ficou calado. Será que foi só por um instante? Não parava de se questionar.
Mas agora vinha o medo. Dra. Helen apostou todas suas fichas numa possível cura para seu paciente. Nunca havia visto nenhum dos seus se regenerar, recobrar consciência, isso era praticamente impossível para ela. Mas o Homem Nu poderia ser a prova que ela era capaz. Há anos que tentava buscar alguém que apoiasse e financiasse seu projeto. Tudo bem, não havia feito nada demais, nada que não houvesse feito antes. Mas ninguém precisava saber. Ele falou, mas não estava mais falando. Disse três frases que não conseguia esquecer e depois ficou calado. Será que foi só por um instante? Não parava de se questionar.
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Hilda Lopes Pontes,
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Perdidos no Tempo - Capítulo 6: "Ele falou:"
quarta-feira, novembro 25, 2015
Ela atravessou a rua nervosa, quase displicente. Apenas o destino não quis que algum carro distraído a impedisse de chegar a seu destino. Subiu trôpega os três lances de escada que levavam a seu apartamento. Buscou as chaves em sua bolsa, mais com o tato que com o olhar. Amaldiçoou mais uma vez, ao abrir a porta, o filho da puta que colocara o interruptor da luz no local errado. Ela morava há dez, quinze anos ali e nunca se acostumara com aquele maldito interruptor! Foco!
Andou apressada até seu quarto, largando os sapatos pelo meio do caminho. Abriu o guarda roupas, afastando os cabides para os lados. Apertou um botão que estava tão disfarçado que ela demorou alguns segundos tateando até encontrar. Uma voz grave e rouca cumprimentou. Dr. Helen, ofegante, somente conseguiu dizer: “Ele falou”.
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