Perdidos no Tempo - Capítulo 10: "Do outro lado da rua"

quinta-feira, março 03, 2016

O táxi sumiu do seu horizonte, e nenhum outro parecia surgir. Cada vez mais nervosa, Dra Helen começou a procurar por um aplicativo em seu celular, mas a internet não queria colaborar. Olhou mais uma vez para frente e viu. Ele estava ali, do outro lado da calçada a observando. O homem nu, mas não estava mais nu, e sim com uma roupa estranha com ares dos anos de 1970. Parecia mais jovem também, mas, sem dúvidas, era ele. Pelo menos em sua lembrança não muito confiável.

Dra. Helen tentou atravessar a rua, mas os carros continuavam vindo com muita velocidade. Ela olhou para os lados, viu uma brecha e começou a atravessar. Foi quando ouviu a buzina e o vento quente em suas pernas. Um corsa preto freava com grande dificuldade e o motorista visivelmente irritado a xingava de dentro do carro. Mas, a médica não se importou. Olhou novamente para o outro lado da calçada, mas o homem não estava mais lá. Procurou por todos os lados e nenhum sinal dele.

Será que estou imaginando coisas? – pensou ela.

Ainda atônita tentando entender o que acontecia, ela sentiu uma mão em suas costas e uma voz rouca ao seu ouvido.

- Dra. Helen.

Ela congelou e começou a se virar lentamente, mas a voz continuou de maneira firme.

- Não, não se vire. Simplesmente ande em direção àquele carro verde.
- Qual? – ela perguntou.
- Aquele Corola estacionado a três carros daqui.

Dra. Helen olhou ao seu redor e viu o carro que seu interlocutor estava indicando. Começou a andar bem devagar. Sentia que ele a acompanhava de perto. Será que era o homem que vira do outro lado da rua? Ou será alguém que já estavam enviando para puni-la ? O homem nu disse que ela iria morrer... Mas, por que o velho não havia lhe explicado tudo quando ela deu o alerta? Por que simplesmente mandou aguardar novas orientações? Tantos anos se preparando para descobrir a falha no projeto e agora que estava perto, eles simplesmente iriam eliminá-la? Não fazia sentido. Não depois dos avanços. Ela precisava retornar ao hospital, precisava conversar com Pedro.

A médica continuou andando olhando para os lados. E mais uma vez ela viu um vulto que parecia o homem nu. Então, não era ele que a estava guiando. Ela respirou fundo e correu o máximo que conseguiu enquanto ouvia apenas a voz rouca ao fundo.

- Pare. Você vai se arrepender.


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Pedro continua observando o paciente encolhido no canto da sala. Não havia muito o que fazer, Dra. Helen disse para ele esperar. Mas, tudo ainda estava muito confuso. O que aconteceu para que o homem despertasse daquele jeito e falasse aquelas coisas? E depois, aquela explosão e o retorno à catatonia. Ele não pode alterar o passado e registra tudo. Mas, como? Afinal, qual o enigma que ele não estava compreendendo? Olhou novamente para o relógio, estava ficando tarde. O paciente também olhou para o objeto e pulou em seu braço, apertando desesperadamente a tela.

- Calma, calma. É só um relógio, não funciona assim.

O paciente se encolheu novamente. Pedro olhou para o seu relógio e para o homem em sua frente. Da outra vez que ele falou também foi quando viu o seu relógio. O residente realmente não compreendia o que estava acontecendo, nem mesmo qual seria o delírio do rapaz, a não ser que... Será?

- O relógio? Altera o passado? É isso?

O homem continuava olhando com um olhar perdido, como se estivesse em um mundo próprio. Pedro insistiu.

- Você é um viajante do tempo? – Perguntou Pedro achando estar entrando no delírio do paciente e não necessariamente acreditando naquilo que perguntava.

Ao ouvir a pergunta, o paciente encarou Pedro pela primeira vez e balançou a cabeça de maneira afirmativa, mas visivelmente nervoso. Havia medo em seu olhar.

- Então, é isso. – Pedro falou mais para si que para o paciente. – Esse é o seu delírio. Você acredita ser um viajante do tempo. E, claro, viagens no tempo sempre irão alterar o passado. Você acha que alterou alguma coisa e por isso está nervoso, né? Fica assim não, vai dar tudo certo. Eu vou te ajudar.

Nesse momento, o celular de Pedro toca. Do outro lado da linha, ele ouve a voz ofegante da Dra. Helen.

- Pedro, sai daí, pega o paciente e sai daí.
- Doutora? Como assim?
- Agora.

A ligação cai e Pedro olha para o paciente de maneira atônita.

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