Os dois olhavam apreensivos, chocados com a notícia. Não conseguiam emitir nenhuma palavra ou som, não conseguiam nem se mexer. Tanto Pedro quanto Dra. Helen não queriam quebrar o que poderia talvez ser a oportunidade que estavam esperando. Não era mais somente sobre alterar o passado que ele falava, tinha dito outra coisa, algo que parecia importante para ele. Tão importante que o fez deixar para traz a repetição que o tomou por anos.
Mas agora vinha o medo. Dra. Helen apostou todas suas fichas numa possível cura para seu paciente. Nunca havia visto nenhum dos seus se regenerar, recobrar consciência, isso era praticamente impossível para ela. Mas o Homem Nu poderia ser a prova que ela era capaz. Há anos que tentava buscar alguém que apoiasse e financiasse seu projeto. Tudo bem, não havia feito nada demais, nada que não houvesse feito antes. Mas ninguém precisava saber. Ele falou, mas não estava mais falando. Disse três frases que não conseguia esquecer e depois ficou calado. Será que foi só por um instante? Não parava de se questionar.
Pedro amassava seu jaleco com as mãos suadas. Não conseguia acreditar no timming que tinha, logo quando chegou... ele falou. Sim ele falou. Agora poderia desvendar o caso que o intrigara tanto. " Não posso mais fugir. A hora dos seus já chegou. Passarei o bastão". Repetia em sua mente várias vezes. O Homem parecia dizer coisas que para ele faziam sentido, mas para Pedro nenhum. Nada, nada. E depois o silêncio que corroia o jovem estudante. Não podia chegar tão longe e depois desistir, ou pior, cometer algum erro que não tivesse volta.
O Homem Nu, até então sentado, levantou-se e encarou a única janela que havia em seu quarto. Tocou nas grades e sorriu.
"Muito bem, como fazemos para eu sair daqui?"
"Ah...", exclamou Dra. Helen
"Ah...?", repetiu o Homem
"Você não pode sair", ela respondeu enquanto Pedro olhava para o Homem mudo, continuava sem conseguir emitir uma palavra.
"Você, quem é?"
"Prazer, sou Dra. Helen. Vou te ajudar em sua recuperação."
"Tenho que ir."
"Você não pode sair assim. Está internado. Só poderá sair quando eu lhe der alta."
"E se eu dissesse que se você não me ajudar agora irá morrer?"
"Está me ameaçando?"
"Não, estou falando um fato. Eles já sabem que acordei. Você irá morrer."
"Sabe quantos pacientes..."
Um estrondo é ouvido pelos três. As paredes e o chão tremem tão forte que eles caem. Desesperada, Dra. Helen olha para a porta que continua trancada.
"E agora? Acredita em mim?"
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