Perdidos no Tempo - Capítulo 8: "Tempo é dinheiro"

domingo, dezembro 27, 2015

Assim como as paredes e o chão, Pedro sentia suas pernas tremerem, seu corpo todo tremer. No celular, derrubado por sua mão trêmula e caído ao canto, Dra. Helen ainda gritava:

- Pedro, Pedro, saia daí! Abra a porta.

Mas Pedro não conseguia nem alcançá-lo. Era como se uma corrente elétrica atingisse seu corpo e ele, paralisado ao chão acolchoado daquele quarto branco, apenas assistia ao que parecia impossível. O estrondo não havia sido do lado de fora do quarto, como supunha. O som vinha de uma estranha explosão de luzes que se materializava no centro do quarto branco. Mas era um som meio abafado, surdo, como se a explosão de luzes trouxesse esse som de outro lugar. Essa foi a sua sensação. Foram os 5 segundos mais longos de sua vida. E, de repente, nada. Tudo parecia igual. O quarto estava silencioso como outrora. No canto oposto ao seu, encolhido sob a janela, o louco, o monocórdio "Homem Nu" demonstrava medo. Um medo paralisante que o deixou estático, encolhido, tremendo no chão.


- Oi, você sabe o que aconteceu? - disse Pedro para o homem.

Mudo, o homem permanecia ao canto, paralisado, encolhido. Dra. Helen ainda gritava.

- Pedro, Pedro...

- Estou bem, Doutora! Não sei o que aconteceu, mas estou bem. - pegando o celular derrubado ao canto.

- E o paciente? Como está ele?

- Está bem também. Mudo, mas bem. O que foi tudo isso?

- Não se importe, proteja ele. Estou indo para aí agora. - E a ligação foi cancelada pela doutora.

- Ei, você sabe o que aconteceu aqui? - Pedro de aproximou do homem - Ei, fale comigo! Por favor...

E o Homem balcuciou palavras que Pedro não conseguiu escutar. Falava para dentro, para si mesmo, um sussurro inaudível que Pedro se esforçava em entender. Pedro se abaixou, e balançou o homem, para tentar lhe tirar daquele transe catatônico do qual parecia ter despertado instantes antes. "Não posso mais fugir. A hora dos seus já chegou. Passarei o bastão." Pedro estava nervoso, estava com medo, sentia que agora pisava em terreno completamente desconhecido e impensado. Pedro sentia que tinha acabado de vislumbrar o impossível.

- Fale, fale mais alto, não estou conseguindo lhe escutar! Quem é você? Você sabe o que aconteceu? O que podemos fazer? - disse, sacudindo o homem desajeitada e nervosamente.

O homem levantou a cabeça e olhou fixamente para Pedro. Seus olhos esbugalhados passaram a nítida impressão de que, dentro daquela cabeça, havia todas as respostas para o medo e o mistério que os cercavam naquele momento. Pedro se afastou, ligeiramente, mas não a ponto de conseguir se afastar do grito de terror, cheio do hálito fétido e das gotas de saliva que vieram ao seu encontro.

- Eu não devo alterar o passado! - gritou o homem com todo o ar que conseguiu.


Em algum lugar no tempo, o Viajante voltou. Surgiu, simplesmente, sentado em uma cadeira igualmente branca e oval no centro da uma sala grande completamente alva. Sua roupa, antes suja de terra e poeira de tanto se esgueirar atrás da melhor foto, agora estava limpa, mas não cheirosa. O cheiro de seu suor ainda estava ali para lembrar seu trabalho árduo. Estava só, não estava com seus equipamentos. Nada mais além da roupa do corpo. Até que aquela loira belíssima mais uma vez em seu vestido branco veio ao seu encontro novamente. O Viajante, de repente, sentiu algo ainda mais estranho.

- Dejá vú? - perguntou a loira.

- Hã? - desnorteado.

- Acontece sempre. - disse, sorrindo - O Diretor pediu para lhe dar os parabéns. O material coletado ficou muito bom.

- Que bom que gostou! Me esforcei muito pra...

- Disse que já está preparado para sua próxima missão.

- Já?

- Sim. Tempo é dinheiro, como diz o nosso Diretor. - riu. - Coloque os fones de ouvido, por favor.

Agora, o Viajante percebeu uma caixa ao seu lado. Branca, com toda a sala. Sobre ela, dois artefatos pequenos e brancos.

- São esses? E os fios?

- Sim, são. Não se preocupe. Coloque.


- Não pode ser, não pode ser! Foi muito rápido! Eu disse que precisava de tempo! Eu disse que precisava de tempo! - dizia Dra. Helen, enquanto calçava os sapatos. A roupa do dia anterior ainda estava sobre seu corpo lhe causando mal estar. Precisava de um bom banho, de algumas horas de repouso, mas esperava por esse momento há tantos anos. Não devia ter avisado. Devia ter contrariado suas ordens para conhecer mais seu paciente. - Droga, droga, droga! Eu sou uma estúpida! Eu devia ter previsto! Eu vi, eu vi o que fizeram! E eu gravei tudo! Está tudo registrado! - Trôpega, descendo as escadas, a doutora quase derruba uma senhora que subia com suas compras.

- Desculpa se usa, viu? - disse a vizinha. Dra. Helen não ouviu.

- O sotaque, o sotaque do homem... Não era o mesmo sotaque! Seria então outro homem? Seria só mais um? Ou o tecido temporal havia feito isso? Tempo, tempo! Eu tinha pedido tempo! - saindo pela porta da rua. - Um táxi, rápido, por favor! - pedia aos céus.

E ele veio, um táxi andando devagar, parecia vazio, como que esperando ela apenas acenar com a mão. E ela acenou, mas o que veio como resposta do motorista foi um sinal com a mão, indicando que o táxi estava cheio.

- Filho da puta! - gritou a plenos pulmões.

No banco de trás, uma garota de seus 11 anos, falou com o motorista:

- Tem tanta gente mal educada no mundo, né, Seu Carlos?

- Mundo moderno, Sofia! Rico e educado hoje é quem tem tempo para ter calma.

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